segunda-feira, 17 de julho de 2023

CRAQUES ALVINEGROS: Canalli


Na virada do século 19 para o 20, Affonso Canalli, que era de Milão, e Lucinda Demarchi, natural de Verona, deixaram a Itália para tentar a vida no Brasil. Aqui se casaram e construíram uma família de cinco filhos. Um deles, Heitor Canalli, nasceu em Juiz de Fora (MG), no dia 31 de março de 1910.
Com um mês Canalli deixou Juiz de Fora e foi para Petrópolis, onde sua família se estabeleceu e foi pioneira na fabricação, no Brasil, de móveis de vime.
Mas a tradicional Fábrica de Móveis Canalli não encantava o garoto Heitor, que brilhava era nos campos, primeiro defendendo o Internacional (onde foi campeão da cidade em 1927) e depois o Petropolitano. Sua fama em Petrópolis logo chamou a atenção do Botafogo, do Rio, que subiu a serra para buscar um dos jogadores que mais orgulho sentiram em vestir a camisa alvinegra.
No dia 14 de setembro de 1929, na preliminar de Seleção Carioca 3 x 1 Bologna, da Itália, o Botafogo derrotou um combinado de jogadores da AMEA por 4 x 2, estreando quatro jovens que defendiam as cores do Petropolitano e ainda não tinham o passe e que nos anos seguintes, tornar-se-iam famosos no clube: os irmãos Fernando e Carlos Carvalho Leite, Canalli e Ariel Nogueira.
Em outubro desse ano, viajou com o time do Botafogo para dois amistosos em Vitória (ES).
Em 1930, disputou nove jogos do campeonato carioca dos segundos quadros e quatro pelo primeiro time. Sua estréia oficial e no time titular do Botafogo aconteceu em 9 de novembro de 1930, em jogo válido pelo Campeonato Carioca daquele ano, jogo em que o Botafogo venceu o São Cristóvão, por 3 x 2.
O Botafogo levantou brilhantemente o título de campeão carioca em 1930.
No ano seguinte, 1931, firmou-se como titular do Botafogo, disputando 18 dos 20 jogos que o clube realizou pelo campeonato carioca dos primeiros quadros.
Voltou a ser campeão carioca pelo Botafogo em 1932, quando disputou todos os 22 jogos realizados pelo clube. Nesse mesmo ano, integrou o selecionado brasileiro em dezessete ocasiões, sendo cinco oficiais, a primeira em 4 de dezembro de 1932, na vitória de 2 x 1 sobre o Uruguai, quando colaborou para a conquista da Copa Rio Branco.
No mês de abril de 1933, acompanhou (emprestado) o Flamengo em excursão ao Uruguai e Argentina, tendo disputado quatro jogos nos dias 2, 9, 13 e 15. Além desses amistosos, disputou outro no dia 12 de março, quando o Flamengo foi derrotado pelo São Cristóvão.
De volta ao Botafogo, disputou 9 jogos pelo campeonato carioca dos primeiros quadros, sendo o último em 23 de julho de 1933, na Rua Bariri, onde o Botafogo venceu o Olaria por 3 x 1.
Antes de sagrar-se bicampeão carioca, foi contratado pelo Torino, para disputar o Campeonato Italiano da Série A. Sua estréia aconteceu no dia 10.09.1933, com derrota para o Padova, por 1 x 0. Foi uma passagem rápida pelo clube italiano (9 jogos, nenhum gol). Deixou o clube com medo de ser convocado para o exército italiano, que lutava na Guerra da Abissínia.
De volta ao Brasil, chegou a ser contratado pelo América mas, atendendo a um pedido do Botafogo, aqui fez sua reestréia no dia 18 de março de 1934, num jogo-treino contra o Andaraí (vitória de 4 x 1). Não participou da campanha pelo tricampeonato carioca. Vivia-se o período de transição do amadorismo para o profissionalismo.
Havia duas entidades, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que era filiada à FIFA e defendia o amadorismo, e a Federação Brasileira de Futebol (FBF), que foi fundada com o profissionalismo. Como o Botafogo era o único grande clube filiado à CBD, foi a base da Seleção na Copa da Itália. Na Copa de 1934, o Botafogo foi a base da Seleção Brasileira. Assim, Canalli tornou-se o primeiro mineiro a participar de uma Copa do Mundo.
Nesse ano, Canalli disputou 18 jogos pela Seleção Brasileira, sendo 17 contra clubes e seleções estaduais.
Em 1935, de volta ao Botafogo, disputou 20 dos 22 jogos válidos pelo campeonato carioca, ajudando o clube a conquistar o quarto título consecutivo.
Nesse período de seis anos, de 1930 a 1935, quando foram conquistados cinco títulos cariocas, o Botafogo utilizou 69 jogadores. Canalli foi o quarto jogador a disputar mais jogos (73).
Nesse mesmo ano, também consagrou-se como campeão brasileiro jogando pela Seleção Carioca.
No começo de 1936, viajou com o Botafogo para a primeira excursão que o clube fez ao exterior. Foram nove jogos no México e Estados Unidos. No campeonato carioca daquele ano disputou 10 dos 12 jogos pelo Botafogo.
Sua última participação na Seleção Brasileira aconteceu em 3 de janeiro de 1937, na vitória de 6 x 4 sobre o Chile, marcando um dos gols.
No campeonato carioca do mesmo ano, Canalli disputou 21 do total de 22 jogos. Além desses, disputou mais 6 jogos pelo campeonato da Federação Metropolitana de Desportos (F.M.D.). Esse campeonato não terminou devido à pacificação entre as Ligas: a pirata Liga Carioca de Futebol e a oficial Federação Metropolitana de Desportos, filiada a CBD.
Em 1938, disputou todos os jogos oficiais em que o Botafogo tomou parte. Foram 16 pelo Torneio Municipal e mais 16 pelo campeonato carioca. Marcou um gol no Torneio Municipal. Ainda em 1938, sagrou-se novamente campeão brasileiro jogando pela Seleção Carioca.
No campeonato carioca de 1939, no qual o Botafogo ficou em segundo lugar, Canalli tomou parte de 23 dos 24 jogos disputados pelo clube.
O Botafogo ficou em quarto lugar no campeonato carioca de 1940. Canalli disputou 13 dos 24 jogos e marcou dois gols.
Seu último jogo com a camisa do Botafogo aconteceu em 1º de dezembro de 1940, nas Laranjeiras, com derrota para o Fluminense, por 3 x 1.
No ano seguinte, transferiu-se para o Canto do Rio Futebol Clube, de Niterói, onde encerrou sua carreira.
Não tentou a carreira de treinador.
Faleceu em Petrópolis (RJ), no dia 21 de julho de 1990.

Fontes:
O Futebol no Botafogo (1904-1950), de Alceu Mendes de Oliveira Castro
Jornal Hoje em Dia

Registro
O vigor e a disposição de Canalli encantavam torcedores e jornalistas da época. Assim, mesmo que não houvesse a briga entre Confederação Brasileira e os clubes de São Paulo, qualquer seleção séria que se montasse no País obrigatoriamente deveria ter seu nome.