As tentativas de estabelecer uma relação dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos - a que se têm entregue inúmeros teóricos do esporte - trazem, sempre, resultados discutíveis, aceitos por uns e rejeitados por outros. Isso se deve, em grande parte, ao fato de os critérios de avaliação adotados por aqueles teóricos se apoiarem, muitas vezes, em dados subjetivos: o gosto pessoal, a experiência, o modo de analisar jogos e jogadores, o próprio temperamento de quem está julgando. Tais dados, somados ao entusiasmo ou mesmo paixão que o futebol habitualmente desperta, não apenas no torcedor comum, mas também no observador neutro, tornam qualquer relação questionável, sendo seu valor, por isso, relativo.
O desempenho de um jogador em determinada partida, no curso de um campeonato e, sobretudo, ao longo de sua carreira, não é matematicamente mensurável. Nele, não existe o recorde, o número absoluto que permite comparações de performances registradas em épocas e lugares diversos. Mesmo quando os critérios de avaliação se baseiam em dados objetivos, de ordem técnica, tática ou estratégica, uma seleção dos "maiores jogadores de futebol de todos os tempos" será sempre polêmica, o melhor para um crítico não o sendo para outro; do mesmo modo, em todos os países, quando se forma uma seleção nacional, raramente se consegue para ela aprovação unânime, de um lado o selecionador indicando os seus 22 melhores, do outro a imprensa e a opinião pública discordando da escolha deste ou da omissão daquele jogador.
A seção O BOTAFOGO DE TODOS OS TEMPOS pretende, apenas, incluir alguns dos jogadores em torno de cuja importância histórica sempre houve certa unanimidade por parte da crítica nacional. Por sua técnica, feitos, fama e inovações introduzidas na prática do jogo, todos eles podem situar-se entre os melhores em suas posições, em todos os tempos.
O BOTAFOGO DE TODOS OS TEMPOS
Iniciamos essa seção com uma pesquisa realizada pela revista Placar, no ano de 1982.
Em seu número 652, de 19.11.1982, foram computados 30 votos, dentre os quais dez jornalistas (Armando Nogueira, Oldemário Touguinhó, Luís Mendes, João Saldanha, Luís Carlos Melo, Sandro Moreyra, Geraldo Romualdo da Silva, Haroldo Habib, Waldir Amaral e Luís Roberto Porto), cinco torcedores ilustres (Osvaldo Sargentelli, Agnaldo Timóteo, Régis Cardoso, Otávio Pinto Guimarães e Jerônimo Bastos), três ex-jogadores (Nilton Santos, Emmanuel Viveiros de Castro-Maninho e Paraguaio) e sete dirigentes/membros da comissão técnica (Juca Mello Machado, Althemar Dutra de Castilho, Charles Borer, Xisto Toniato, Lídio Toledo, Paulo Amaral e Édson Bentes). Além deles, cinco torcedores desconhecidos.
Assim ficou a quantidade de votos de cada jogador em suas posições (utilizando o clássico sistema 4-3-3):
GOLEIRO
Manga, 24 votos
Vítor, 5
Osvaldo Baliza, 1.
LATERAL-DIREITO
Carlos Alberto Torres, 21
Zezé Procópio, 5
Rubinho, 1
Zezé Moreira, 1
Perivaldo, 1
Pamplona, 1.
ZAGUEIRO-CENTRAL
Basso, 13
Brito, 8
Leônidas, 5
Gerson dos Santos, 3
Couto, 1.
QUARTO-ZAGUEIRO
Leônidas, 13
Nilton Santos, 11
Nariz, 3
Alemão, Brito e Gerson dos Santos, 1.
LATERAL-ESQUERDO
Nilton Santos, 19
Marinho Chagas, 4
Canalli e Rildo, 3
Juvenal, 1.
MÉDIO-VOLANTE
Didi, 20
Martim Silveira, 4
Ávila, 2
Afonsinho, Juvenal, Pampolini e Nei Conceição, 1.
MEIA-DIREITA
Gerson, 19
Didi, 9
Geninho e Nilo, 1.
MEIA-ESQUERDA
Zagalo, 9
Gerson, 8
Geninho, 4
Nilo, 3
Quarentinha e Heleno de Freitas, 2
Amarildo e Paulo Tovar, 1.
PONTEIRO-DIREITO
Garrincha, 30 (único jogador que foi unanimidade!)
CENTRO-AVANTE
Heleno de Freitas, 16
Jairzinho, 4
Roberto Miranda, 3
Leônidas da Silva e Carvalho Leite, 2
Quarentinha, Paulinho Valentim e Pirilo, 1.
PONTEIRO-ESQUERDO
Patesko, 9
Amarildo, 8
Jairzinho, 6
Braguinha e Zagalo, 2
Roberto Miranda, Mimi Sodré e Quarentinha, 1.
Obs.:
Na ponta-esquerda, a revista resolveu somar os pontos obtidos nas demais posições do ataque e Jairzinho saiu vencedor, com 10 votos, contra 9 de Patesko e Amarildo.