domingo, 4 de junho de 2023

BOTAFOGUENSES ANÔNIMOS: Santo Cristo


Walter Goulart da Silveira
, o Santo Cristo, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 12 de setembro de 1922.
O apelido vem do pequeno bairro portuário situado no extremo norte da Zona Central da cidade do Rio de Janeiro, onde ele nasceu e foi criado.
Começou a jogar futebol nas equipes infantis do Mavilis, time de amadores, da Segunda Divisão do futebol carioca. O nome Mavilis vinha das iniciais de Manuel Vicente Lisboa, um dos diretores da Cia. América Fabril e grande incentivador do esporte entre os funcionários da fábrica. Era sediado no bairro do Caju.
Com 17 anos ingressou no juvenil do Bonsucesso. Nessa época chegou a integrar a equipe principal do clube nos treinamentos realizados e disputou o Campeonato Carioca de Reservas (uma espécie de terceira divisão), como foi o caso do Torneio Início dessa categoria, realizado em 10 de julho de 1941, nas Laranjeiras.
Pouco tempo depois assinou contrato com o São Cristóvão. A primeira vez que vestiu a camisa do São Cristóvão foi no Torneio Início do Campeonato Carioca, realizado no dia 29 de março de 1942.
Uma semana depois fazia sua estreia na equipe principal do São Cristóvão, marcando um dos gols da vitória de 5 x 2 sobre o Bangu, em Campos Sales, no dia 5 de abril de 1942. O São Cristóvão formou com Oncinha, Mundinho e Augusto; Gualter, Dodô e Castanheira; Santo Cristo, Alfredo, João Pinto, Salim e Lenine. Técnico: Abel Picabéa.
No ano de 1943, Santo Cristo conquistou seu primeiro título de campeão no São Cristóvão. Foi o Torneio Municipal, realizado de 11 de abril a 6 de junho, terminando dois pontos à frente do Fluminense.
Na última partida, um inusitado empate de 6 x 6 com o Canto do Rio, tendo Santo Cristo marcado três vezes.
O São Cristóvão foi terceiro colocado no campeonato carioca de 1943, atrás, apenas da dupla Flamengo e Fluminense.
No campeonato carioca de 1944, o São Cristóvão foi muito mal, terminando na oitava colocação (entre dez participantes). O último jogo de Santo Cristo no São Cristóvão aconteceu em 22 de outubro de 1944, na derrota de 1 x 0 para o Botafogo. Marcou oito gols nessa competição.

Ainda em 1944, transferiu-se para o Vasco da Gama, onde fez sua estreia no dia 7 de janeiro de 1945, em São Januário, sem marcar um gol sequer na goleada do Vasco da Gama de 8 x 1 sobre o Jabaquara, de São Paulo (SP).
O ano de 1945 foi de notáveis vitórias para o Vasco da Gama. Venceu o Torneio Início, depois o Torneio Municipal e, por último, o campeonato carioca, conquistado de forma invicta pela primeira vez em sua história depois dessa competição se tornar profissional.
Foi o ano em que o “Expresso da Vitória” começou a ganhar velocidade e, num time recheado de craques, Santo Cristo revezou a ponta-direita com Djalma.
A equipe, uma das mais famosas do Vasco da Gama, formou, basicamente, com Barbosa, Augusto e Rafanelli; Berascochea, Eli do Amparo e Argemiro; Santo Cristo, Ademir Menezes, Isaías, Jair Rosa Pinto e Chico.
Apontado como favorito, a grande decepção de 1946 foi o Vasco da Gama. Iniciou a temporada mostrando que continuava a ser o melhor do Rio de Janeiro, ganhando os torneios Relâmpago (com Santo Cristo marcando o gol da vitória de 1 x 0 sobre o Fluminense, na decisão) e Municipal, mas foi eliminado na primeira rodada do Torneio Início pelo modesto Canto do Rio. Perdendo peças do quilate de Ademir Menezes, ficou em quinto lugar no campeonato carioca.
Seu último jogo no Vasco da Gama foi em 17 de novembro de 1946, no amistoso na Vila Belmiro, com derrota para o Santos, por 4 x 1.
Também em novembro de 1946 Santo Cristo foi convocado para os treinamentos do selecionado carioca que iria disputar o Campeonato Brasileiro de Seleções.
Quando se desligou da seleção carioca, em março de 1947 transferiu-se para o Botafogo, que começava a formar um grande esquadrão, contando com Heleno de Freitas, Octávio, Geninho e outros.
Sua estreia na equipe principal do Botafogo aconteceu durante uma excursão que o clube fez ao sul do Brasil. No dia 16 de março de 1947, Santo Cristo fez seu primeiro jogo no Botafogo, em Curitiba (PR), no empate em 3 x 3 com o Ferroviário local. O Botafogo formou com Ary, Carvallo e Sarno; Ivan, Negrinhão (Cid) e Juvenal; Santo Cristo, Geninho, Tim, Limoeiro e Demósthenes (Braguinha) (Nilo).
No jogo seguinte, em 18 de março de 1947, na vitória de 6 x 0 sobre o Seleto, de Paranaguá (PR), Santo Cristo marcou dois gols.
No Torneio Municipal, disputado de 12 de abril a 22 de junho de 1947, o Botafogo foi vice-campeão e Santo Cristo terminou a competição como o segundo maior artilheiro, marcando 11 gols, dois a menos que Friaça, do Vasco da Gama, campeão do torneio.
Na goleada de 6 x 0 contra o Bangu, em 13 de abril de 1947, Santo Cristo marcou quatro gols. Marcaria também contra o Vasco da Gama, na vitória de 4 x 0, em 31 de maio de 1947.
No dia 27 de julho de 1947, em São Januário, Santo Cristo conquistou seu único título com a camisa do Botafogo, o Torneio Início, com essa formação: Oswaldo Baliza, Gerson dos Santos e Sarno; Adão, Nilton Senra e Juvenal; Santo Cristo, Geninho, Ponce de León, Octávio e Reynaldo. Técnico: Ondino Vieira.
Sua última participação pelo Botafogo foi no dia 28 de dezembro de 1947, em São Januário, com derrota de 1 x 0 para o América, pela última rodada do campeonato carioca desse ano.
No total, foram 37 jogos (15 amistosos, 12 pelo Campeonato Carioca e 10 pelo Torneio Municipal). Marcou 28 gols.
O espírito irrequieto de Santo Cristo não o deixou ser mais uma vez campeão carioca, pois, em 1948, quando o Botafogo venceu a competição, assinava com o São Paulo.
Se não foi campeão carioca, integrou a equipe que foi campeã paulista. Uma das formações do São Paulo era: Gijo, Savério e Renganeschi; Rui, Bauer e Noronha; Santo Cristo, Lelé, Leônidas da Silva, Remo e Teixeirinha.
Sua estreia no tricolor paulista aconteceu em 21 de março de 1948, substituindo Amaral na derrota de 3 x 1 para o Taubaté (SP).
No jogo seguinte, na vitória de 4 x 1 sobre o Novo Horizonte (SP), em 28 de março de 1948, marcaria seu primeiro gol com a camisa do São Paulo.
Antes do término do 1º turno do Campeonato Paulista, a situação de Santo Cristo no São Paulo não era nada boa. Nas vésperas do amistoso contra o Torino, da Itália, que foi disputado em 28 de julho, Santo Cristo perdeu a titularidade da ponta-direita para Antoninho, primeiramente, e depois para China.
Seu último jogo como titular havia sido em 11 de julho de 1948, marcando um dos gols da vitória de 2 x 0 sobre o Corinthians, no Pacaembu.
Mesmo tendo jogado pouco no São Paulo, mostrou seu faro de artilheiro, balançando as redes adversárias nove vezes em 21 jogos no ano de 1948.
No início de setembro de 1948, surgiu o interesse do Fluminense na aquisição de Santo Cristo. No final desse mesmo mês, Santo Cristo treinou pela primeira vez como jogador do Fluminense, com uma novidade: atuando na meia-direita.
No dia 3 de outubro de 1948, disputou seu primeiro jogo no Fluminense, no empate em 0 x 0 com o Canto do Rio, em Caio Martins, válido pelo campeonato carioca. Jogou o Fluminense com Castilho, Pé de Valsa e Hélvio; Índio, Mirim e Bigode; 109, Santo Cristo, Simões, Orlando Pingo de Ouro e Rodrigues.
No período em que esteve no Fluminense, Santo Cristo não conquistou nenhum campeonato. Foi o quarto artilheiro do campeonato de 1949, com 14 gols.
Seu último jogo foi em 11 de março de 1951, no amistoso com o América, de Joinville-SC, que venceu o Fluminense, por 2 x 1. Foram 86 jogos como titular e 31 gols marcados.
Ao fim de seu contrato, foi para Campinas (SP). No dia 3 de junho de 1951, Santo Cristo estreava no Campeonato Paulista como jogador do Guarani. Na vitória de 3 x 1 sobre o Ipiranga, da capital, marcou um dos gols.
Na rodada de 16 de setembro de 1951, antes mesmo de encerrar-se o primeiro turno, Santo Cristo passou a defender o XV de Novembro, de Piracicaba (SP). Jogando em Campinas, o XV venceu a Ponte Preta, por 2 x 1.
Na rodada seguinte, 23 de setembro de 1951, Santo Cristo marcou um gol no empate em 2 x 2 com o Radium, de Mococa.
Ficou em Piracicaba até 1953. Seu último jogo válido pelo Campeonato Paulista aconteceu em 20 de setembro de 1953. De abril a junho de 1953, Santo Cristo esteve emprestado a Portuguesa de Desportos. Fez seu primeiro jogo no dia 9 de abril de 1953, um amistoso contra o Corinthians, de Santo André, com vitória de 3 x 1. Seu primeiro gol aconteceu em 18 de abril de 1953, em jogo válido pelo Torneio Rio-São Paulo, com vitória da Portuguesa de Desportos sobre o Fluminense, no Pacaembu, por 3 x 1.
Foram apenas oito jogos com a camisa da Portuguesa de Desportos, assinalando três gols. O último jogo ocorreu em 11 de junho de 1953, na derrota de 2 x 0 para o Flamengo, pelo Torneio Quadrangular de Curitiba, no estádio Durival de Brito.
Depois disso, foi parar na Ferroviária, de Araraquara (SP), onde disputou os campeonatos paulistas de 1953 e 1954.

De volta ao Rio de Janeiro, foi jogar e treinar o São Cristóvão. Mas, novamente, fez as malas, indo desta vez para o Atlético Mineiro, onde ficou por três meses, emprestado. No Atlético Mineiro, segundo a Galopédia, Santo Cristo disputou apenas cinco jogos, o primeiro deles em 19 de janeiro de 1955 (marcando dois gols na vitória sobre o Asas, por 4 x 0, pelo campeonato mineiro de 1954, e o último em 26 de fevereiro de 1955, na vitória de 2 x 0 sobre o Villa Nova, também pelo campeonato mineiro de 1954, conquistado pelo Atlético Mineiro.
Retornou ao Rio de Janeiro logo após sua passagem pelo Atlético Mineiro, para integrar a equipe do São Cristóvão. Em 1956, Santo Cristo fez parte da equipe que disputou 21 jogos na excursão à Europa e África, de 11 de abril a 23 de julho de 1956. Ainda em 1956, disputou o campeonato carioca pelo Olaria.
Só encerrou sua carreira de jogador no São Cristóvão, aos 37 anos. Passou também a participar de jogos válidos pelo campeonato carioca de veteranos, defendendo o Milionários.
Em março de 1961, Santo Cristo passou a dedicar-se à profissão de treinador, primeiramente dos juvenis do São Cristóvão. Seu primeiro grande teste (que foi um êxito completo) foi com o Tupynambás, de Juiz de Fora. O clube estava mal tecnicamente e Santo Cristo o levou à conquista do título de campeão da Liga de Desportos de Juiz de Fora, depois de uma melhor de três pontos contra o Tupi, vencedor do 1º turno. A última vez que o Tupynambás conquistou esse título foi em 1946.
Continuou no Tupynambás em 1962 e, no ano seguinte, Santo Cristo foi treinar o Meridional, de Conselheiro Lafaiete, também de Minas Gerais.
Depois passou a ser técnico do Paysandu, de Belém (PA), em 1964 e 1965.
A partir de 1966 e até 1973, esteve dirigindo times da Colômbia. Primeiramente, o Unión Magdalena, onde, depois de passagens ruins (9º em 1966 e 10º em 1967), venceu o Torneio Apertura em 1968, garantindo participação na Libertadores. No mesmo ano e em 1969 treinou o Atlético Nacional, de Medellín, não indo bem e sendo substituído pelo alemão Lothar Padel. Voltou ao Unión Magdalena ficando até 1971.
Retornou ao futebol brasileiro e foi treinador do CRB, de Maceió, no campeonato alagoano de 1974, do Botafogo, de Salvador, no campeonato baiano de 1975 e do Atlético Goianiense, de Goiânia (GO), nos anos de 1976 e 1977, ano em que, através de um projeto da Associação Brasileira de Treinadores foi enviado a Roraima e a Rondônia para ensinar o futebol em cursos especiais.
Foi técnico do Club Deportivo Águila, de San Salvador (El Salvador), em 1978, e depois voltou a treinar equipes da Colômbia, dentre elas o Unión Magdalena e o Tolima (em 1986).


Fontes consultadas:
Almanaque do São Paulo, de Alexandre da Costa
Almanaque do Vasco, do grupo PesquisaVasco
Chuva de Glórias – A trajetória do São Cristóvão de Futebol e Regatas, de Raymundo Quadros
Estatísticas Fluminense
História dos Campeonatos Cariocas de Futebol 1906/2010, de Clóvis Martins e Roberto Assaf
Jornal dos Sports
Mundo Esportivo
O Globo Sportivo
Revista do Esporte
Sport Ilustrado.


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