Apesar do calor senegalês da tarde de 2 de outubro de 1932, o pequeno campo na
Estrada do Norte, na estação de Bonsucesso, conseguiu apanhar uma casa cheia,
quase repleta.
É que ali se feriria um dos mais importantes embates dessa temporada de futebol, dadas as circunstâncias especiais que envolviam o jogo.
Vencendo a partida, o Botafogo conquistaria o campeonato. Empatando ou perdendo, resultaria um pequeno alento para as esperanças vagas do Flamengo, segundo colocado na tabela.
Grandes eram, portanto, as responsabilidades dos dois contendores. Um, por certo, empregaria os seus esforços para vencer a sagrar-se campeão. O outro haveria de empenhar-se a fundo, com entusiasmo e alta compreensão de seus deveres esportivos, para triunfar sobre o time que enfrentava.
Desse triunfo dependeria a sorte definitiva do campeonato. O numeroso público, ávido de sensações, teve bem recompensado o seu sacrifício, suportando a canícula impiedosa e comprimindo-se nas acomodações deficientes do pequeno campo.
E disso deu sobejas provas, porque todas as fases do encontro mereceram fartos aplausos e o incitamento dos adeptos dos dignos adversários.
O Botafogo levou a melhor. Venceu porque jogou com mais apuro do que o Bonsucesso.
No primeiro tempo, houve equilíbrio de forças. Os vencedores iniciaram a peleja levando evidente vantagem sobre o adversário. Todo o quadro alvinegro agia com entusiasmo e em perfeita técnica.
O primeiro gol da tarde foi conquistado por Nilo, aos cinco minutos de jogo, após uma entrada fulminante e com tiro bem colocado e indefensável.
Coube ainda a Nilo marcar o segundo tento da tarde, cobrando um pênalti cometido por Loló. Chutou forte e Pinheiro nada pôde fazer.
Nos quinze minutos finais do primeiro tempo, porém, os locais reagiram vigorosamente, apesar da diferença de dois gols a favor dos visitantes, que acusava o placar e passaram a fazer perigosas cargas sobre o gol de Victor.
O Bonsucesso fez o seu primeiro gol, de pênalti cometido por Martim.
Decorrem quinze minutos e Leônidas da Silva, aproveitando-se com inteligência e decisão de uma confusão na área do Botafogo, entra e faz aninhar a bola nas redes do alvinegro.
Instantes depois, servindo-se de um escanteio bem batido por Carlinhos e devolvido por Canalli, Loló finaliza com com tiro alto e bem colocado, entrando a bola no ângulo direito superior do gol de Victor.
O Bonsucesso conservou até o fim do primeiro tempo a vantagem de 3 x 2.
Veio o segundo tempo. Os alvinegros dão mostras, desde a saída, do desejo firme de empatar para depois vencer.
A um minuto de jogo, depois de um ataque rapidíssimo e levado ao campo contrário em combinação primorosa, Nilo obriga a Pinheiro, goleiro adversário, a praticar magnífica defesa.
Passam-se mais três minutos e o gol de empate é obtido: Nilo escorando oportuno passe de Ariel.
Mais sete minutos e o Botafogo desempata em seu favor. O gol foi conquistado por Paulinho. Depois de um belo ataque alvinegro, o meia-direita do Botafogo escora belo centro de Celso e chuta de modo indefensável, com todo o êxito.
Até esse momento, notou-se evidente supremacia dos visitantes. O Bonsucesso, porém, duro na queda, volta a reagir. Registram-se bons ataques dos locais, até que ao fazer uma defesa precipitada, Rodrigues mete a mão na bola dentro da área, visivelmente sem intenção, mas a falta foi punida pelo árbitro. Leônidas da Silva bate a penalidade e o jogo fica de novo empatado.
O dia, porém, era dos pênaltis. Estava escrito que o Botafogo deveria vencer. Os ataques incisivos que os atacantes alvinegros levaram a efeito com o fim de desempatar novamente a partida foram, afinal, novamente coroados de êxito.
Forma-se uma confusão na porta do gol do Bonsucesso. Marcelo, do Bonsucesso, acossado por Almir e Álvaro, mete a mão na bola. O árbitro pune a falta máxima, que Nilo transforma no gol da vitória.
Como se vê, houve dois pênaltis de lado a lado.
Inegavelmente esse segundo tempo foi francamente favorável ao Botafogo, que jogou melhor e com mais ardor do que o Bonsucesso.
Os times tiveram a seguinte constituição: BOTAFOGO – Victor, Benedicto e Rodrigues; Ariel, Martim e Canalli; Álvaro, Paulinho (Almir), Carvalho Leite (Paulinho), Nilo e Celso. Técnico: Nicolas J. Ladanyi. BONSUCESSO – Pinheiro, Fernandes (Congo) e Barcelos; Loló, Oto (Eurico) e Marcelo; Carlinhos, Gradim, Prego, Leônidas da Silva e Miro. Técnico: Gentil Cardoso.
Nota: não foi com facilidade que o jogo teve um árbitro. O senhor Luiz Neves, que fora caçado nas arquibancadas, recusou-se a arbitrar a partida, apesar dos pedidos insistentes que foram feitos. Por fim, na falta de árbitro competente, o Bonsucesso apelou para o íntegro e acatado árbitro, Carlos Martins da “Carlito” Rocha, do Botafogo, que procurou resistir a todo tipo de apelo. Depois de meia hora de muita insistência, quando se previa a hipótese de não ser efetuado o jogo por falta de árbitro, Carlito Rocha se viu obrigado a pisar o gramado para apitar, o que fez visivelmente contrariado.
A atuação de Carlito Rocha foi a mais imparcial possível.
Comemorando o levantamento do campeonato, os diretores, associados e jogadores do Botafogo reuniram-se, à noite, na aristocrática sede de seu clube, onde se realizou um animado e elegante jantar dançante, que foi muito concorrido.
Fonte: Correio da Manhã.
É que ali se feriria um dos mais importantes embates dessa temporada de futebol, dadas as circunstâncias especiais que envolviam o jogo.
Vencendo a partida, o Botafogo conquistaria o campeonato. Empatando ou perdendo, resultaria um pequeno alento para as esperanças vagas do Flamengo, segundo colocado na tabela.
Grandes eram, portanto, as responsabilidades dos dois contendores. Um, por certo, empregaria os seus esforços para vencer a sagrar-se campeão. O outro haveria de empenhar-se a fundo, com entusiasmo e alta compreensão de seus deveres esportivos, para triunfar sobre o time que enfrentava.
Desse triunfo dependeria a sorte definitiva do campeonato. O numeroso público, ávido de sensações, teve bem recompensado o seu sacrifício, suportando a canícula impiedosa e comprimindo-se nas acomodações deficientes do pequeno campo.
E disso deu sobejas provas, porque todas as fases do encontro mereceram fartos aplausos e o incitamento dos adeptos dos dignos adversários.
O Botafogo levou a melhor. Venceu porque jogou com mais apuro do que o Bonsucesso.
No primeiro tempo, houve equilíbrio de forças. Os vencedores iniciaram a peleja levando evidente vantagem sobre o adversário. Todo o quadro alvinegro agia com entusiasmo e em perfeita técnica.
O primeiro gol da tarde foi conquistado por Nilo, aos cinco minutos de jogo, após uma entrada fulminante e com tiro bem colocado e indefensável.
Coube ainda a Nilo marcar o segundo tento da tarde, cobrando um pênalti cometido por Loló. Chutou forte e Pinheiro nada pôde fazer.
Nos quinze minutos finais do primeiro tempo, porém, os locais reagiram vigorosamente, apesar da diferença de dois gols a favor dos visitantes, que acusava o placar e passaram a fazer perigosas cargas sobre o gol de Victor.
O Bonsucesso fez o seu primeiro gol, de pênalti cometido por Martim.
Decorrem quinze minutos e Leônidas da Silva, aproveitando-se com inteligência e decisão de uma confusão na área do Botafogo, entra e faz aninhar a bola nas redes do alvinegro.
Instantes depois, servindo-se de um escanteio bem batido por Carlinhos e devolvido por Canalli, Loló finaliza com com tiro alto e bem colocado, entrando a bola no ângulo direito superior do gol de Victor.
O Bonsucesso conservou até o fim do primeiro tempo a vantagem de 3 x 2.
Veio o segundo tempo. Os alvinegros dão mostras, desde a saída, do desejo firme de empatar para depois vencer.
A um minuto de jogo, depois de um ataque rapidíssimo e levado ao campo contrário em combinação primorosa, Nilo obriga a Pinheiro, goleiro adversário, a praticar magnífica defesa.
Passam-se mais três minutos e o gol de empate é obtido: Nilo escorando oportuno passe de Ariel.
Mais sete minutos e o Botafogo desempata em seu favor. O gol foi conquistado por Paulinho. Depois de um belo ataque alvinegro, o meia-direita do Botafogo escora belo centro de Celso e chuta de modo indefensável, com todo o êxito.
Até esse momento, notou-se evidente supremacia dos visitantes. O Bonsucesso, porém, duro na queda, volta a reagir. Registram-se bons ataques dos locais, até que ao fazer uma defesa precipitada, Rodrigues mete a mão na bola dentro da área, visivelmente sem intenção, mas a falta foi punida pelo árbitro. Leônidas da Silva bate a penalidade e o jogo fica de novo empatado.
O dia, porém, era dos pênaltis. Estava escrito que o Botafogo deveria vencer. Os ataques incisivos que os atacantes alvinegros levaram a efeito com o fim de desempatar novamente a partida foram, afinal, novamente coroados de êxito.
Forma-se uma confusão na porta do gol do Bonsucesso. Marcelo, do Bonsucesso, acossado por Almir e Álvaro, mete a mão na bola. O árbitro pune a falta máxima, que Nilo transforma no gol da vitória.
Como se vê, houve dois pênaltis de lado a lado.
Inegavelmente esse segundo tempo foi francamente favorável ao Botafogo, que jogou melhor e com mais ardor do que o Bonsucesso.
Os times tiveram a seguinte constituição: BOTAFOGO – Victor, Benedicto e Rodrigues; Ariel, Martim e Canalli; Álvaro, Paulinho (Almir), Carvalho Leite (Paulinho), Nilo e Celso. Técnico: Nicolas J. Ladanyi. BONSUCESSO – Pinheiro, Fernandes (Congo) e Barcelos; Loló, Oto (Eurico) e Marcelo; Carlinhos, Gradim, Prego, Leônidas da Silva e Miro. Técnico: Gentil Cardoso.
Nota: não foi com facilidade que o jogo teve um árbitro. O senhor Luiz Neves, que fora caçado nas arquibancadas, recusou-se a arbitrar a partida, apesar dos pedidos insistentes que foram feitos. Por fim, na falta de árbitro competente, o Bonsucesso apelou para o íntegro e acatado árbitro, Carlos Martins da “Carlito” Rocha, do Botafogo, que procurou resistir a todo tipo de apelo. Depois de meia hora de muita insistência, quando se previa a hipótese de não ser efetuado o jogo por falta de árbitro, Carlito Rocha se viu obrigado a pisar o gramado para apitar, o que fez visivelmente contrariado.
A atuação de Carlito Rocha foi a mais imparcial possível.
Comemorando o levantamento do campeonato, os diretores, associados e jogadores do Botafogo reuniram-se, à noite, na aristocrática sede de seu clube, onde se realizou um animado e elegante jantar dançante, que foi muito concorrido.
Fonte: Correio da Manhã.