domingo, 4 de dezembro de 2022

RETRATO EM PRETO E BRANCO: Basso


Oscar Alberto Américo Basso nasceu no bairro de Caballito, no centro geográfico de Buenos Aires, capital da Argentina, em 22 de abril de 1922.

Um amigo seu de peladas, Tossoni, havia seguido para jogar no Tigre, na divisão secundária, e o convidou para ir também.

Basso se formou no pequeno Tigre e foi promovido ao time adulto em 1941. Estreou na 16ª rodada, em 1 x 1 contra o Gimnasia y Esgrima, em La Plata, e logo firmou-se na titularidade. O Tigre terminou em décimo lugar e com a sétima melhor defesa do campeonato argentino, algo notável em um cenário onde os grandes eram seis (Boca Juniors, River Plate, Racing, Independiente, San Lorenzo e o Huracán).

Mas, em 1942, o Tigre foi o último colocado e caiu para a Segunda Divisão. O insucesso não foi exatamente atribuído ao zagueiro, que só participou basicamente da metade inicial da campanha do Tigre, até a 17ª das 30 rodadas. Tanto assim que Basso foi contratado por um River Plate campeão desse ano.

Era o River Plate “La Máquina”. Basso, contudo, não vingou. No campeonato argentino de 1943, só foi usado em duas rodadas do vice-campeonato do River Plate; o zagueiro titular pela direita no clube era o ídolo histórico Ricardo Vaghi. Isso não significou exatamente inatividade, mas uma presença limitada basicamente à equipe B, pela qual Basso inclusive sagrou-se campeão do campeonato da categoria – junto a figuras reconhecidas antes ou depois da história do River Plate. Se não adiantou para Basso firmar-se no time principal, ainda era suficiente para ser repassado a outro gigante.

Já havia deixado seus estudos de Engenharia quando se transferiu para o San Lorenzo e ali logo se consolidou no time treinado pelo húngaro Emérico Hirschl. Em uma época de defensores rudes, destacou-se pelo jogo limpo e cavalheiro, ainda que a concorrência fortíssima de uma geração dourada o desgastasse na seleção: nas Copas América de 1945 e 1946, o zagueiro direito indiscutível era Salomón, capitão e por trinta anos o recordista de jogos pela seleção da Argentina.

O melhor de Basso viria justamente no decorrer de 1946. O San Lorenzo de 1946 conseguiu o feito de somar 90 gols (em 30 jogos), números não superados por ninguém no campeonato argentino naquela década.

Basso foi um dos três jogadores do San Lorenzo que estiveram em todos os trinta jogos da trajetória campeã, ao lado de Angel Zubieta e de Armando Farro. Foi o único título argentino do San Lorenzo entre 1936 e 1959. Para celebrar o título, o clube organizou sua primeira excursão à Europa, passando por Espanha e Portugal. Basso esteve presente em todas as dez partidas de uma viagem memorável, aí incluídas vitórias sobre o Atlético Aviación (atual Atlético de Madrid – 4 x 1), duas vezes sobre a seleção da Espanha (7 x 5 e 6 x 1), 3 x 3 com o Athletic Bilbao, 1 x 1 com o Valencia, 0 x 0 com o Deportivo La Coruña, 5 x 5 com o Sevilla (campeão de La Liga na temporada 1946-47), 9 x 4 no Porto e 10 x 4 na seleção portuguesa. Os 7 x 5 sobre a seleção da Espanha seriam incluídos, em 2020, pelo jornal madrilenho “As” como um dos 100 jogos históricos dos próprios derrotados.

Em 1947 o San Lorenzo ficou em quinto lugar, a onze pontos do campeão River Plate. Basso, por sua vez, se engajava na luta por melhores condições de trabalho aos jogadores argentinos. Virou o Presidente do sindicato da categoria, que deflagrou a famosa greve de 1948. A greve paralisou o campeonato na 25ª rodada, em 31 de outubro de 1948. O San Lorenzo continuou jogando o torneio, mas com a equipe de aspirantes. Os titulares, por sua vez, jogaram três dias depois bem longe dali, justamente na última partida de Basso em sua primeira etapa no San Lorenzo, sua primeira vez no Brasil: vitória de 1 x 0 sobre o Expresso da Vitória do Vasco da Gama, em São Januário.

A greve não foi atendida e isso levaria ao exílio de astros de diversos clubes, especialmente ao Eldorado Colombiano. A Europa foi outro destino natural. Junto com outros dois argentinos, Basso rumou à Itália, para jogar na Internazionale, de Milão.

Basso ficou só uma temporada no “calcio”. Retornou para Buenos Aires manifestando o propósito de não regressar à Itália, salientando que existia essa intenção por parte de outros jogadores sul-americanos que atuavam na Europa, todos temendo o perigo de uma nova guerra e que, de um momento para outro se visse envolvido em um conflito armado.

Nada menos que cinco clubes estavam interessados na aquisição de Basso. Foi, então, que Geraldo Romualdo da Silva, do Jornal dos Sports, escreveu sobre o Botafogo ao argentino. Já no Brasil, foi levado a General Severiano pelo radialista Luís Mendes.

Resolveu sua transferência com o clube italiano e embarcou para o Rio de Janeiro. Chegou para o Botafogo no dia 12 de setembro de 1950. Uma semana depois já estava treinando com seus novos companheiros. Tendo agradado plenamente as exibições feitas nos dois treinamentos, foi submetido ao exame médico e aprovado para logo atuar pelo Botafogo.

Isso aconteceu em 24 de setembro de 1950, em Caio Martins, na derrota de 1 x 0 para o Canto do Rio. Formou o Botafogo com Oswaldo Baliza, Basso e Nilton Santos; Rubinho, Souza e Carlito; Vivinho, Neca, Pirilo, Zezinho e Careca. Técnico: Carvalho Leite. Foram 14 jogos em 1950, com 11 vitórias, um empate e duas derrotas.

Basso só jogou o Estadual de 1950 (que já estava em andamento), o primeiro na Era do Maracanã. Naquele estadual, o Botafogo ficou em 4º lugar.

Em 1951, foram apenas três, com uma vitória e duas derrotas.

Depois de haver atuado com brilho durante o campeonato carioca, Basso estava propenso a permanecer no Botafogo, onde fez excelentes amizades.

No dia 15 de fevereiro de 1951 o Botafogo comunicou à Federação Metropolitana de Futebol que prorrogaria por sete meses o contrato de Basso.

O zagueiro foi na excursão ao Chile com a sua situação regularizada. Quando o Botafogo retornou, Basso não acompanhou a delegação até o Rio de Janeiro. Demonstrou interesse em permanecer em Buenos Aires, preocupado, principalmente, com a enfermidade de sua esposa.

Seu último jogo pelo Botafogo aconteceu em 18 de fevereiro de 1951, com derrota para o Colo Colo, por 3 x 1. A escalação foi a seguinte: Oswaldo Baliza, Basso e Nilton Santos; Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Neca, Vinícius, Geninho e Zezinho. Técnico: Carvalho Leite.

No dia 8 de março de 1951 o Botafogo recebeu uma carta de Basso solicitando rescisão do seu contrato, unicamente devida à enfermidade de sua esposa, em tratamento na capital argentina.

Em 1951, Basso foi anistiado na Argentina por seu papel na greve e acertou sua volta ao San Lorenzo; reestreando na liga argentina na 16ª rodada desse ano, um 0 x 0 com o River Plate, em 29 de julho. O mesmo duelo, no returno, com Basso em campo, seria o primeiro jogo televisionado da história do futebol argentino. Seguia a qualidade do defensor. Ídolo do Boca Juniors nos anos 50, Borello declarou: “Eu preferia jogar contra Dellacha ou Pizarro, que iam ao choque. Por outro lado, ficava louco com Oscar Basso, que me antecipava sempre e saía jogando” (Dellacha, de fato, seria descrito por Pelé como seu mais duro marcador).

Depois do jogo contra o River Plate, Basso marcou os dois gols da vitória sobre o Platense, por 2 x 1, em duas cobranças de penalidades máximas ocorridas durante o jogo.

Sem faltar em um só jogo da liga argentina em 1952, 1953 e 1954, Basso penduraria as chuteiras em 1955 após um ano inteiro só sendo utilizado em amistosos do San Lorenzo. Em 1955, a revista El Gráfico dedicou-lhe essas palavras: “Quão terá jogado esse homem que brilhou frente aos atacantes que o enfrentaram com tudo, porque sabiam que não receberiam golpes!”.

Ao todo, Basso defendeu o San Lorenzo em 209 jogos no campeonato argentino, registrando onze gols, dez dos quais como cobrador oficial de pênaltis, destacando-se sobretudo em 1952: fez cinco, incluindo em cada jogo contra o Boca Juniors (vencido em ambos, com o zagueiro fazendo o da vitória em La Bombonera).

Dentre os jogos de segunda etapa de Basso no San Lorenzo, destaque para o amistoso internacional com vitória de 4 x 1 sobre os ex-companheiros de Botafogo em 20 de março de 1953, no Torneio Quadrangular de Buenos Aires.

Mesmo com tão poucos jogos pelo Botafogo, Basso foi lembrado em 1982 e reeleito em 1994, em enquete promovida pela revista Placar, para fazer parte do “Botafogo de Todos os Tempos”, votado por figuras ilustres como Nilton Santos, Didi, Zagalo, Armando Nogueira, Sandro Moreyra, Paulo Amaral, dentre outros.

O “Botafogo dos sonhos” teria Manga no gol, Carlos Alberto Torres e Nilton Santos nas laterais, com Sebastião Leônidas formando o miolo de zaga com Basso.

Falecido em 2007, Basso também foi bastante reconhecido no futebol de seu país, ainda que não chegasse a defender a seleção, situação atrelada a fatores políticos.

No ano em que o San Lorenzo celebrou seu centenário (2008) e publicou o “Diccionario Azulgrana”, com verbetes de todos os jogadores que defenderam o clube, um seleto grupo de personalidades mereceu uma página inteira ou mais. Basso foi uma delas, descrito como “um pedaço substancial da história azulgrana” e “um jogador de ouro para uma época de ouro”.

Antes, a revista El Gráfico recordou do zagueiro como alguém que desarmava limpamente e então saía jogando “como se pedisse licença”.

 

Fontes:

Esporte Ilustrado

Futebol Portenho

Jornal dos Sports

Mundo Esportivo

 

 

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