O primeiro e maior historiador do Botafogo, Alceu Mendes de Oliveira Castro, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), mais precisamente na rua São Clemente, no bairro de Botafogo, em 13 de agosto de 1906.
Aos nove anos de idade abandonou a coleção de selos e interessou-se pelo futebol, passando a colecionar recortes de jornais e revistas referentes ao Botafogo, que, apesar da idade, passou a selecionar cuidadosamente.
Nasceu daí o formidável arquivo que manteve durante anos, enriquecido por suas notas pessoais, tomadas em todos os jogos que assistia. Aos poucos, seu arquivo foi crescendo e se aprimorando: cadernos, com as descrições de todos os jogos e fotos referentes ao Botafogo, álbuns de fotografias, coleção completa e encadernada da revista “Vida Sportiva” (1917-1922), além de suas anotações pessoais, completando organizações de quadros e marcadores de gols.
Em 1922 Alceu passou a sócio-contribuinte e em 1929 a membro do Conselho Deliberativo e a diretor do clube, sendo chamado a exercer o cargo de 1º Secretário, cargo que ocupou até 31 de dezembro de 1930.
Pouco antes, em 8 de setembro de 1930, casou-se com Zaidie Frias. Em janeiro de 1933, no mesmo cargo de 1º Secretário, voltou a trabalhar com Paulo Azeredo, o “Presidente de Ouro” e conheceu dias terríveis da cisão esportiva, provocada pela implantação do profissionalismo.
Nos intervalos da luta, fez uma descoberta preciosa: seu amigo Horácio Machado arrecadara na sede velha, situada sob as arquibancadas, uns baús semi-inutilizados por uma inundação. Neles encontrou o que tanto procurava: dados referentes à vida do clube de 1904 a 1915.
Foi uma lástima o dano provocado pela enchente, pois Alceu verificou que era bem organizado o antigo arquivo do clube, com registros de jogos em pequenos livros apropriados, com organizações de quadros e artilheiros. Copiou o que se salvou e melhorou consideravelmente o seu arquivo, que, ainda assim, no referido período, ficou cheio de omissões.
Em agosto de 1935, cansado e também sucumbido com o advento do profissionalismo, pois que era um amadorista absolutamente sincero, deixou espontaneamente a diretoria do clube, renunciado em plena sessão.
Firmemente disposto a abandonar o esporte, Alceu passou a frequentar menos o clube e recusou vários convites para voltar à administração. Por força do velho hábito da infância, entretanto, manteve sempre em dia o seu arquivo botafoguense, embora empobrecido no que concerne aos jogos das divisões inferiores, tão pouco noticiados na imprensa.
No começo de 1945, quando menos esperava, recebeu um convite que não pôde recusar: Alfredo d’Escragnolle Taunay, então Diretor de Propaganda do clube e que, como tal dirigia o Boletim, sabendo da existência de seu arquivo, pediu-lhe para escrever crônicas na revista mensal botafoguense sobre o passado do Botafogo.
Com súbito entusiasmo, pôs mãos à obra.
Seus artigos agradaram a muitos dos veteranos, que reviveram suas façanhas de outrora e que descreveu com a maior fidelidade. Foi um grande estímulo a escrever a vida do Botafogo. Revendo seu arquivo, faltava muita coisa ainda do período entre 1904 e 1915.
A partir de maio de 1945, passou a frequentar a Biblioteca Nacional, folheando, em suas horas de folga, as coleções dos jornais “Correio da Manhã”, “Jornal do Commercio”, “O Paiz” e “O Imparcial”, dentre outros.
Com enorme satisfação colheu dados completos sobre os campeonatos cariocas de 1910 e 1911, mas, quantos aos outros anos, encontrou muitas falhas: a imprensa da época limitava-se a dar o resultado de um jogo quando este se realizava em um mesmo dia de uma grande partida.
Em abril de 1947, surgiu a indicação inestimável de que os arquivos da Liga Metropolitana de Sports Athleticos achava-se depositado na CBD – Confederação Brasileira de Desportos.
Não hesitou um minuto e pediu socorro ao seu amigo Rivadávia Corrêa Meyer, Presidente da CBD e botafoguense como ele, para que autorizasse a consulta ao precioso arquivo, no que foi prontamente atendido.
Compareceu por três dias à sede da CBD e, em seis horas, copiou todas as súmulas da velha Metropolitana. Aumentou extraordinariamente o seu material, confrontando os dados novos com os que já possuía e ficou apto a escrever a grande obra sobre o Botafogo.
Em janeiro de 1948, convidado por seu amigo de todos os tempos Carlos Martins da Rocha, assumiu o cargo de diretor do Departamento de Comunicações e, com o velho entusiasmo, dedicou-se de corpo e alma ao Botafogo.
Na Secretaria reexaminou todo o arquivo do clube, extraindo notas preciosas de seus livros de atas de sessões de diretorias, assembleia geral e conselho deliberativo, relendo os antigos copiadores de ofícios e todos os relatórios, ficando, assim, senhor de impressionante material.
Num domingo em sua casa, 24 de abril de 1949, para ocupar o tempo, começou a redigir o primeiro capítulo da maior obra até hoje editada sobre o clube (O Futebol no Botafogo 1904-1950) e o entusiasmo apossou-se dele.
E, em seis meses, auxiliado pela boa memória que o conduzia diretamente às fontes, com relativa facilidade, frutificou o trabalho de trinta e quatro anos.
Foram perto de 1.400 páginas manuscritas em papel almaço, que três grandes amigos tiveram a espontaneidade e a paciência de datilografar em suas horas de folga: Horácio Machado, o veterano e exemplar chefe da Secretaria do Botafogo, sua dedicada e prestimosa auxiliar Maria Magdalena Pinto Rollo e a abnegada desportista Romacild Maria Roma, diretora do Departamento Feminino do clube.
No intervalo, decidiu diminuir as omissões relativas aos marcadores de gols e voltou à Biblioteca Nacional, sendo quase totalmente feliz, pois que examinou as coleções de “Gazeta de Notícias”, de 1906 a 1915, o melhor jornal desse período para descrição de jogos. Colheu dados impressionantes, que somente sua paciência fez pesquisar e que tudo indicava fossem inexistentes, como, por exemplo, os autores dos célebres 24 gols contra o Mangueira, em 1909, e referências apreciáveis ao caótico e quase esquecido campeonato de 1912, da Associação de Football do Rio de Janeiro, disputado pelo clube quando se achava separado da Metropolitana.
Alceu sempre deixou claro que redigiu “O FUTEBOL NO BOTAFOGO” na qualidade que mais prezava: na de simples torcedor do Botafogo e não na que ocupava na época, de seu diretor, nem na qualidade de sócio benemérito – título que lhe foi outorgado pelo Conselho Deliberativo, por proposta do Presidente Carlito Rocha, em sessão de 21 de novembro de 1949.
Era Diretor do Departamento de Comunicação do Botafogo quando faleceu, em 5 de outubro de 1962, no Rio de Janeiro.
O féretro saiu da sede do Botafogo de Futebol e Regatas, à avenida Wenceslau Braz, nº 72, para o cemitério de São João Batista.
No dia 7 de outubro de 1962, em General Severiano, o Botafogo venceu o Bonsucesso por 4 x 1. Os jogadores do Botafogo atuaram de luto, com braçadeiras negras pela morte de Alceu.
A Associação dos Cronistas Desportivas do Rio de Janeiro – ACD instituiu a Taça “Alceu Mendes de Oliveira Castro” para ser entregue a um dos finalistas do Torneio Início do Campeonato Carioca disputado em 23 de outubro de 1963. O Botafogo sagrou-se tricampeão do Torneio Início.
Alceu Mendes de Oliveira Castro também era advogado e em 1961 escreveu um outro livro: “Seleções Brasileiras Através dos Tempos de 1914 a 1960”, em parceria com José Carneiro Felipe Filho.